Arion Louzada
A determinação do impacto econômico da disseminação mundial do corona-vírus sobre a economia brasileira não é simples. Prejuízos econômicos decorrem da só incerteza sobre as perspectivas. Mais do que medidas fiscais e econômicas do governo, ao Banco Central do Brasil impõe-se manejar com prontidão políticas adequadas de estabilidade monetária e financeira.
A determinação do impacto econômico da disseminação mundial do corona-vírus sobre a economia brasileira não é simples. Prejuízos econômicos decorrem da só incerteza sobre as perspectivas. Mais do que medidas fiscais e econômicas do governo, ao Banco Central do Brasil impõe-se manejar com prontidão políticas adequadas de estabilidade monetária e financeira.
As mais sólidas
democracias estão sujeitas a suportar impactos severos por decorrência de
desatenções com a vigilância do capitalismo.
A volatilidade do
mercado de ações, nestes dias, tem crescido na Bovespa e nas bolsas do resto do
mundo, assustadoramente.
O Brasil é um mercado de
alta renda para investidores de todo mundo, mas segue sendo um emergente, uma economia
em desenvolvimento, eufemismo para país subdesenvolvido. O barco com os ativos
alocados em mercados como o brasileiro encontra-se sob risco e tende a migrar
para estâncias mais seguras, como a economia americana, por exemplo, ainda que
com rendimentos irrisórios, sempre que as águas turvam.
No trade off maior
ganho versus segurança - presente o corona-vírus -, robustos investidores
tendem a voltar-se para a segunda alternativa, mesmo que o custo da
oportunidade lhes seja significativo: mais vale um pássaro na mão do que dois
voando. E quando o noticiário assusta, até o conceito de margem é negligenciado.
A mão invisível não soluciona nada.
As empresas sofrem com custos
mais altos de financiamento quando exploram o mercado de ações e títulos. O
arroxo financeiro inevitavelmente aciona o freio da economia. A insegurança
financeira leva o consumidor a reduzir o consumo e isso fará com que as empresas
faturem menos e parem de investir.
Este mês de março de
2020 é um momento de ouro da política monetária brasileira, a hora do Banco
Central do Brasil. Ainda que a taxa de inflação não seja a de equilíbrio, não há
outra alternativa senão injetar mais liquidez na economia, reduzindo taxas de
juros.
Somente a alta liquidez
da economia brasileira é capaz de reverter os apertos financeiros, inevitáveis
com a crise econômica internacional derivada do impacto do corona-vírus e da redução
dos preços do petróleo.
A autoridade econômica
tem que estar atenta para reprimir qualquer ação obtusa dos gestores de ativos
e em fundos negociados na Bovespa. Certas complacências ofendem a natureza do
sistema de vigilância do capitalismo.
Os bancos privados brasileiros
não inspiram cuidados, dada sua liquidez, solidez de capital, robustez. A
redução eventual nos preços de suas ações significa pouco. Já deveriam estar - não
estão -, oferecendo condições melhores nos contratos de empréstimo para os tomadores
mais afetados pela crise. A vigilância do Banco Central deve melhorar os óculos ao
examinar a atuação de Itaú, Bradesco e Santander. Já que ostentam a maior
rentabilidade do planeta, no conjunto da banca, deles parece justo reclamar alguma
compensação pela fração da exorbitância dos últimos anos. Esses têm o dever de
oferecer empréstimos melhores e com menores taxas de juros.
A hora é de aninhar a liquidez
na economia dentro da política monetária do governo, com atenção às
recorrências do mercado, que não pode ser deixado à toa. A ideia de economia de
mercado não é excludente de estímulos e regulação.