Vida sem trabalho é distopia
Arion
Louzada
A fome pode ser o próximo desafio da crise mundial do corona-vírus. Não
poucos estados nacionais poderão ver-se diante da opção macabra de preservar
vidas ou meios de subsistência; salvar as pessoas do corona-vírus apenas para
que passem fome.
Mais de dois milhões de pessoas estão infectadas com o corona-vírus;
centenas de milhões se sentem ameaçadas.
A partir do agravamento da pandemia do corona-vírus no Brasil milhares
de pessoas procuram pelos benefícios de desemprego. Diariamente cresce o número
de requerentes.
Nos meses de março e abril cerca de 3,5 milhões de brasileiros perderam
o emprego – involução do mercado de trabalho jamais experimentada em tão curto
espaço de tempo.
Impossível precisar o número exato de desempregados no país, neste
início de maio de 2020, porque as estatísticas não conseguem acompanhar a
velocidade das perdas de emprego. Simultaneamente à perda de emprego, milhares
de brasileiros perdem seu seguro saúde ou não mais conseguem pagá-lo como
decorrência do desemprego.
Um incontável número de indústrias e lojas seguirão fechadas neste mês
de maio. A última reforma trabalhista tornou mais fácil as demissões no Brasil.
Os empregados dessas empresas fechadas irão atrás dos benefícios de desemprego.
Quase R$ 1 trilhão está sendo injetado pelo Estado, por meio de pacotes
de estímulos, na economia em frangalhos. Em esforço pela contenção do
crescimento do desemprego parte desse dinheiro substituirá custos salariais
suportados por firmas pequenas e médias. Que ninguém superestime o auxílio estatal nesta crise econômica relacionada ao
corona-vírus. O Estado não tem como pagar tudo; só dispõe para gastar em ajuda
e benefícios sociais o quanto é arrecadado.
Até meados de janeiro projetava-se crescimento econômico para 2020 de
mais de 2%; a disseminação da pandemia desde o início de março destruiu a
perspectiva e agora seguimos rumo à recessão. A produção econômica brasileira
despenca.
O Brasil pranteia mais de 6 mil mortes de seus nacionais, acometidos da
doença pulmonar COVID-19.
Em Brasília, hoje, enfermeiros realizam protesto, com máscaras de
proteção ao rosto e cruzes nas mãos. A morte de profissionais de saúde, decorrente
da precariedade hospitalar do país, segue crescente. Nos corredores dos
hospitais brasileiros médicos e enfermeiros exaustos.
Em São Paulo, o Vale do Anhangabaú, a Paulista e o Campo de
Bagatelle não têm atos nem de comemoração nem de protestos, neste 1º de maio.
Este é um 1º de maio cinzento.
O Brasil é um país vulnerável. Neste dia 1º de Maio de 2020 não é
possível deixar de refletir sobre os impactos econômicos da pandemia sobre os
trabalhadores.
Ainda que ninguém saiba com segurança o que acontecerá nos próximos
dias, no Brasil e no mundo, é certo que as doenças e as restrições de liberdade
de movimentos reduzem o trabalho em todos os setores de produção e isso redunda
em aumento generalizado de preços, especialmente dos alimentos.
O trabalho é a nossa vida. A quem quer que cultive o sentimento de
controle não fará mal sujeitar suas utopias ao escrutínio da realidade.
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